Direção, concepção e texto: Brena Maria
Imagens: Breno Murilo
Trabalho desenvolvido em casa durante a pandemia do Covid 19. Gravação e edição no período de 16 a 19 de maio do ano de 2020.
" Foi Santa Joana quem disse
Confia em Nanã ó
Confia em Nanã"
BUROQUÊ
Infelizmente me calo
Resguardo a voz anêmica
Precipito lágrimas
De sólido ao puro liquido.
D E S Á G U A
Em linhas sinuosas transformo-me
Agora sou rio
Lanço-me ao mar
Vou correndo ao teu encontro
D E S Á G U A
Senhora de minhas lamentações
Eis que minhas dores
A seguem pela estrada
Colho os frutos
No próximo retorno a superfície
D E S Á G U A
CAJUEIRO RESISTE
UM FILHO DA MATA
UMA QUEBRADEIRA DE COCO
UM FILHO DE TERREIRO
E UM FILHO DE PESCADOR
TODOS BRANDAVAM
EM UM ÚNICO SOM:
–NÃO DERRUBA O CAJUEIRO, Ó GOVERNADOR!
O VERMELHO DA BANDEIRA
QUE OUTRORA SE DIZIA COMUNISTA
ESCORRE NAS TERRAS DO POVO QUE ALI VIVIAM
ATERRAM O MANGUE
POLUEM O MAR
DERRUBAM AS ÁRVORES
PASSAM POR CIMA PRA ECONOMIA LEVANTAR
DIZEM QUE VÃO GERAR 10 MIL EMPREGOS,
MAS SERÁ QUE VALE A PENA
TANTAS FAMÍLIAS SACRIFICAR?
ESSE GOVERNO SE FAZ DE BOM MOÇO
DIZ QUE É DO POVO
MAS FAZ A VELHA POLITICAGEM
FECHANDO ACORDOS
QUE MOVEM A MESMA ENGRENAGEM
COMO CONSEGUEM DESAPROPRIAR
UMA POPULAÇÃO QUE TEM A POSSE
DESDE 1988,
SE NÃO FOR POR MEIO DA
GRILAGEM DE TERRAS
ONDE FLÁVIO DINO FECHA
OS OLHOS?
MAS É CLARO
FOI FINANCIADO
ATÉ ENTÃO ERA OPOSIÇÃO
UM DINHEIRINHO PRA CAMPANHA
E FOI LOGO SE BANDEANDO
SEM NENHUMA CERIMÔNIA
LAVANDO AS MÃOS!
COMO PILATOS
METEU BALA DE BORRACHA
EM QUEM ACHOU QUE ELE ERA SEU CANDIDATO
MAS DURMA TRANQUILO SEU MOÇO
NÃO FOI A SUA TERRA COLOCADA PRA NEGÓCIO
ENTREGUE DE BANDEJA O MARANHÃO PRO GRANDE CAPITAL
E ENXOTA O TRABALHADOR RURAL
SEM NENHUM CENTAVO
NO BOLSO
E AI EM 2022 PEDE MEU VOTO
SÓ QUE TENHA CERTEZA
QUE NESSA ENROLAÇÃO EU NÃO CAIO
PRESERVA O CAJUEIRO
OU
PARA DE FALAR MAL DO BOLSONARO
FALANDO DO MAL LAVADO
PORQUE AÍ FICA FÁCIL
FAZER REVOLUÇÃO NO TWITTER
E NOS BASTIDORES METER PORRADA NO
PROLETARIADO.
Sobre o caso do Cajueiro:
>>http://semcerrado.org.br/povos_doc_errado/moradores-estao-sob-ameaca-de-despejo-no-cajueiro-em-sao-luis-ma/
OBABÌNRIN
Não sei se sonhava ou de fato acontecerá
Mas lembro de despertar com uma luz branca
Preenchendo todos os cantos da casa
Silencio atravessou-me
Tapei os olhos
E de repente alguém chamou
Um canto vinha lá do quintal
A porta estava escancarada
As folhas da mangueira arfavam
Desci os degraus
Era ela
Sentada em uma cadeira
de búzios encrostada
De baixo da juçareira
Com os pés afundados no lodo
No lodo do mangue
A anciã primeira.
Lá estava Nanã.
Não consegui me aproximar
O chão encharcado estava
A terra seca virou lama
E na lama formou-se um lago d´água
Indo ao batente da porta
Àgua benta que cura
Sacia e lava a alma.
Junto dela fiquei
Ela que até então não me revelará o seu rosto
Se aproximou
E eu sem pensar duas vezes pedi-lhe benção
“Benção é pra quem pede e não pra quem bota”
Me abençoou e mirando meus olhos sem proferir nenhuma
palavra
As minhas aflições, a velha deusa das águas lavou.
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